Não é nova a idéia de que o conservadorismo e o preconceito estão ligados umbilicalmente. Vários estudos já realizados chegaram a essa conclusão. A novidade é que o posicionamento conservador e o preconceito podem estar ligados à baixa inteligência.
Um estudo feito por pesquisadores de uma universidade de Ontario, no Canadá, chegou a conclusões bastante interessantes: adultos de baixo QI ou com dificuldades cognitivas tendem a ter atitudes conservadoras e preconceituosas (racismo, homofobia, machismo etc).
O estudo foi dirigido pelos pesquisadores Gordon Hodson e Michael A. Busseri, do departamento de Psicologia da Universidade Brock, de Ontario, e foi publicado pela revista Psychological Science.
Os dados levam a crer que as pessoas menos inteligentes se sentem atraídas por ideologias conservadoras porque estas exigem menos esforço intelectual, pois oferecem estruturas ordenadas e hierarquizadas, onde o indivíduo pode se sentir mais confortável.
É bom deixar claro que inteligência nada tem a ver com escolaridade. Há vários exemplos históricos (como a Comuna de Paris ou a Revolução Russa) em que as classes mais baixas e com menos escolaridade se mostraram as únicas capazes de pensar de maneira progressista.
Hodson afirma que “menor capacidade cognitiva pode levar a várias formas simples de representar o mundo e uma delas pode ser incorporada em uma ideologia de direita, onde ‘pessoas que eu não conheço são ameaças’ e ‘o mundo é um lugar perigoso ‘…”.
A grande contribuição dessa pesquisa pode ser a criação de novas formas de combater o racismo e outras formas de preconceito. “Pode haver limites cognitivos na capacidade de assumir a perspectiva dos outros, particularmente estrangeiros”, entende Hodson, já que a crença corrente é que o preconceito tem origens emocionais, não cognitivas.
O que será que Marco Feliciano e Silas Malafaia têm a dizer sobre isso?
Fontes:
- Estudo liga preconceito a pessoas de baixo QI
- Low IQ & Conservative Beliefs Linked to Prejudice
- Ideology and Prejudice – The Role of Value Conflicts
- Bright Minds and Dark Attitudes – Lower Cognitive Ability Predicts Greater Prejudice Through Right-Wing Ideology and Low Intergroup Contact
Edição em 10/04/2013
Esclarecimentos
Este post levou a uma enxurrada de comentários os mais variados. Como algumas coisas apareceram várias vezes, resolvi esclarecer.
Talvez eu tenha pecado por assumir como premissa que as pessoas chegam a conclusões lógicas facilmente. Aparentemente estou errado, então vou tentar explicar de uma maneira mais simples.
1. “Então você acha que…”
Não tente adivinhar o que eu acho. Este post é simplesmente uma notícia superficial sobre uma pesquisa realizada por pesquisadores canadenses com dados britânicos.
Eu não emiti absolutamente nenhum comentário no texto. Me limitei a descrever a pesquisa conforme eu a compreendi.
2. “Todo conservador é burro”
Percebam: isso não está escrito no texto. Isso não está escrito na pesquisa. Isso não está escrito nas duas matérias jornalísticas que se referem à pesquisa.
De onde tiraram isso? De uma parca noção de lógica. Pensam: se a premissa A e a premissa B tem relação de dependência de B para A, então a recíproca sempre será verdadeira. Bom, isso não existe. Um cachorro amigo é diferente de um amigo cachorro. Não há equivalência lógica entre A -> B e B -> A.
Essa frase é ainda pior pelo uso do termo “burro”. Esse termo não designa nada em específico. É apenas um adjetivo pejorativo. Este blog não concorda com o uso do termo.
3. “Essa pesquisa é preconceituosa”
Por favor, a pesquisa não apresenta conceito nenhum, como pode pré-conceituar. Tal afirmação carece totalmente de sentido.
A pesquisa chegou a conclusões a partir de dados obtidos. No documento com os resultados da pesquisa (último link da seção “fontes) está descrita a metodologia de coleta de dados e de avaliação. Todos têm o direito de discordar da metodologia – inclusive acho importante que o façam – mas chegar a uma conclusão pré-concebida sobre a pesquisa sem lê-la sim é que é preconceito.
Nessa categoria ainda há os ad hominen (falácia de ataque ao argumentador) contra os pesquisadores. Falácias, em geral, não tem a capacidade de chegar a conclusões coerentes.
4. “Eu tenho não sei quantas graduações… Eu falo esperanto e klingon”
Não conheço pesquisa que correlacione escolaridade e capacidade cognitiva. Seu currículo não é de nenhuma serventia aqui.
Esse argumento parece é ser uma tentantiva de argumentum magister dixit (apelo à autoridade).
5. “Não consigo abrir o link da pesquisa”
Bom gente, eu lamento muito, mas o link é da revista Psychological Science e eu não tenho autorização para distribuí-lo. Um colega postou um link que aparentemente também tem uma versão em pdf da pesquisa (não conferi): http://www.30bananasaday.com/forum/topics/bright-minds-and-dark-attitudes
6. “Não se usam mais testes de QI”
Isso não é inteiramente verdade, mas OK, eles estão em desuso. Por outro lado, quem se der ao trabalho de ler a pesquisa, perceberá que os testes foram aplicados pelo governo britânico em 1958 e 1970. Ora, qual instrumental existia na época? Sejamos honestos: é uma crítica que não tem cabimento.
7. “A ciência não serve pra nada. Racionalismo e ceticismo levam a uma vida sem sentido”
Bom, antes de qualquer coisa, por favor, leia este texto que explica resumidamente o que é o Livre Pensamento. Se você nega a ciência, nega o racionalismo e o ceticismo, está fazendo o que aqui?
8. Este texto é um ataque ao cristianismo
Essa é tão bizarra que eu nem sei o que responder. Cadê o ataque? Malafaia e Feliciano foram citados por serem líderes assumidamente conservadores e sabidamente preconceituosos. Poderia ter citado outros: Reinaldo Azevedo ou Olavo de Carvalho, por exemplo. Se bem que esses não lideram ninguém…
9. “Quem acredita nisso é idiota”, “Quem é progressista tem mais HIV” e absurdos do tipo
Sim, houve vários comentários desse tipo. Será que o cara pensa mesmo que isso é um argumento sério?
Fonte: http://livrepensamento.com/2013/04/09/
Postado Por: Antônio Brito
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