“SER EDUCADO”PARA A
ACESSIBILIDADE
*Maria
José de Oliveira Fontes
Em setembro de
2011, o artigo “Desencantamento por
Viçosa” de minha autoria e publicado neste jornal abordou entre outras
questões a acessibilidade para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.
Este é um tema atual, de interesse a diversos profissionais, sobretudo aos que
atuam em Engenharia Civil e Arquitetura, responsáveis pela elaboração e
execução de projetos estruturais e arquitetônicos de imóveis residenciais e comerciais.
Existe outro público que se interessa e muito por este tema: as pessoas que
possuem deficiências, necessidades especiais e mobilidade reduzida. São
cadeirantes, idosos, obesos, gestantes, crianças etc. Essas pessoas são
consideradas usuárias, ou seja, elas se utilizam dos bens e serviços de uma
comunidade e precisam andar nas ruas (com cadeira de rodas ou não), entrar em
prédios para se consultarem, fazer compras em lojas, ir à restaurantes, academias
de ginásticas, clínicas de fisioterapia, a um teatroou cinema entre outros. São
pessoas que por motivos variados, necessitam de auxílio para se locomoverem
como a cadeira de rodas, a bengala, a companhia de um cuidador etc. Para
garantir esse direito de ir e vir está em vigor desde o ano de 2004, a Lei de Acessibilidade
a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos (ABNT NBR 9050:2004).
Os dados do
Censo de 2010 revelam que háno Brasil, 45,6 milhões de pessoas com pelo menos
uma das deficiências (visual, auditiva, motora e mental), representando 23,9%
da população. A dificuldade de locomoção incide sobre 13,3 milhões de pessoas
(7,0%). A deficiência motora severa (pessoas com grande dificuldade ou
incapazes de se locomover) foi declarada por 4,4 milhões de pessoas, das quais
734,4 mil não conseguiam caminhar ou subir escadas de modo algum (0,4%). Os
dados desse Censo constatam, portanto, um contingente expressivo da população.Além
do elevado número de pessoas com deficiência (a diferença em relação aos dados
do Censo 2000 foi de 14,3% da população), constata-se também umcompartilhamento
maior de conhecimentos, informações ecomunicação por meio da internet e de
outras mídias entre as pessoas. Outros fatos constatados:o brasileiro está
vivendo mais (percentual de idosos aumentou); as crianças com deficiência estão
frequentando creches, pré-escolas e escolas de ensino fundamental e médio; os
jovens com deficiência ou mobilidade reduzida estão se matriculando em
universidades e profissionais com diferentes tipos de deficiência estão atuando
no mercado de trabalho. Esta é uma realidade vivenciada pelos moradores de
Viçosa e de outras cidades do Brasil. Como diz o presidente da Rede de
Informação de Tecnologia Assistiva Europeia,
Prof. RenzoAdrich, (...) “este é um
aspecto positivo do processo irrefreável da globalização que estamos
experimentando nestes anos.”Como essas mudanças de comportamento geram uma
transformação social, também geram demandas de serviços e necessidades. E uma
necessidade básica e fundamental na vida das pessoas mencionadas acima é a
acessibilidade.
Embora em
alguns locais já se percebem iniciativas neste sentido, em Viçosa como na
grande maioria das cidades brasileiras a lei não é cumprida no que se refere ao
oferecimento das condições mínimas para as pessoas com dificuldade de locomoção
circularem nas vias públicas, calçadas e terem acessoem prédios de uso coletivo.
A colocação dos semáforos foi sem dúvida um fator importante na melhoria da
organização do trânsito.Mas isso só não basta. É importante destacar que estamos
falando de Viçosa, uma cidade inteiramente dedicada à educação, mas que precisa
ser educada... Construir rampas adequadamente, possibilitar que um cadeirante
entre nos prédios de uso coletivo (públicos ou particulares) para consultar ou fazer
suas compras como qualquer outro cidadão é ser “educado” para o respeito ao
próximo, para a igualdade entre as pessoas, para a dignidade, para o exercício
da cidadania etc.Afinal, não somos invisíveis. Somos todos pedestres e
precisamos andar nas ruas, calçadas e entrar nos prédios como todas as demais pessoas
o fazem com segurança e autonomia.
Como
cadeirante há aproximadamente cinco anos, ouço repetidamente essa frase: as pessoas só se tocam quando tem alguém na
família ou do seu relacionamento pessoal com algum problema... Será que é
preciso acontecer o problema, por exemplo uma queda, um acidente de moto ou de
carro, ter uma doença degenerativa para depois se tomar as providências? Esta é
uma boa reflexão para os leitores e para a população de Viçosa. Viver
coletivamente é saber olhar o outro, compreender suas necessidades, respeitar
os direitos das pessoas, pois a sociedade somos todos nós e o que temos em
comum é querer viver bem na cidade que escolhemospara morar. Essa parcela da
população só será verdadeiramente “incluída” na sociedade quando for ouvida,
valorizada eter seus direitos plenamente reconhecidos e cumpridos.Talvez as pessoas
responsáveis pelos prédios que não oferecem acessibilidade ainda não se
sensibilizaram porque não precisam utilizar uma bengala ou uma cadeira de rodas
para se locomoverem ou porque não possuem alguém na família ou algum amigo com
este tipo de problema. Neste caso, eles apenas estão retardando as obras, pois
a Lei de Acessibilidade é muito clara e há de ser cumprida.
A fim de
ilustrar algumas das dificuldades que enfrentamos nas vias públicas, calçadas e
em lojas de Viçosa, os leitores poderão assistir os vídeosintitulados“Acessibilidade em Viçosa - parte 1” e “Acessibilidade em
Viçosa - parte 2” no youtube. Em breve, estará disponível a parte 3.
*Maria
José de Oliveira Fontes é Professora do Departamento de Economia Doméstica da
UFV.
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